Durante o 11º Encontro ATP, Ministério de Portos e Aeroportos e a Associação de Terminais Portuários Privados (ATP) debateram propostas para a sustentabilidade e a inovação.
O futuro dos portos é verde e exigirá um esforço conjunto do Poder Público e da iniciativa privada para a efetiva descarbonização do setor portuário. Essa foi a mensagem central transmitida durante o 11º Encontro ATP, na quinta-feira (24), em Brasília. Na ocasião, a Associação de Terminais Portuários Privados (ATP) e o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) assinaram um Acordo de Cooperação Técnica, com duração de dois anos, para a promoção de política de sustentabilidade e inovação no setor.
O evento, cujo tema foi “Transição energética no transporte marítimo – ameaças e oportunidades para os terminais portuários brasileiros”, reuniu, ainda, especialistas e representantes de empresas do Brasil e do exterior para discutir o que tem sido feito até agora e as perspectivas para o alcance do chamado net zero de emissões líquidas de gases de efeito estufa (GEE) até 2050, meta definida pela Organização Marítima Internacional (IMO). Hoje, o transporte marítimo é responsável por 3% das emissões globais de GEE em todo o mundo.
O diretor-presidente da ATP, Murillo Barbosa, lembrou que há metas a serem alcançadas muito antes disso. “Os próximos três anos serão decisivos no que se refere a redução de emissão e gases de efeito estufa no transporte marítimo mundial. Importante salientar que já a partir de 2027 entra em vigor uma penalidade sobre as emissões de GEE na navegação, para promover a migração dos combustíveis fósseis para as alternativas energéticas rumo ao net zero. As discussões sobre o tema seguirão até 2025, quando a assembleia geral da IMO votará determinações para seus países-membros”, disse Barbosa.
A secretária executiva do MPor, Mariana Pescatori, afirmou que a pasta pretende divulgar e implementar, até o final do ano, a Política de Sustentabilidade, que divulgará a agenda pública do tema. O MPor, contudo, pretende firmar o que ela chamou de “pacto de sustentabilidade” com o setor privado, em que cada player trará as suas metas e suas expectativas em relação à descarbonização. “Temos um desafio muito grande pela frente. Com certeza, a gente vai ter que investir muito no país, não só investimento público como privado, para fazer com que as nossas instituições se adaptem”, disse Pescatori.
Sobre esses investimentos, a secretária disse, ainda, que o governo tem consciência de que será preciso pensar nas fontes para viabilizá-los, principalmente os relacionados às adaptações das infraestruturas de armazenamento e abastecimento do bunker, combustível fóssil majoritariamente utilizado no transporte marítimo, para os renováveis. “A gente tem que pensar em fundos e financiamentos para que o setor privado possa fazer essa transição energética. O que está mais próximo de ser usado é o biodiesel e o metanol. Mas ainda é muito mais caro que o bunker. Então, efetivamente a gente vai ter que evoluir. E pensar em linhas de financiamento para que a gente possa desenvolver esses biocombustíveis e implementar no setor”, declarou.
Já o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Eduardo Nery, destacou que a agência possui uma agenda ambiental em andamento, com trabalhos em três frentes prioritárias: um estudo para diagnóstico da transição energética, que inclui análise de como os portos brasileiros estão se preparando para receber embarcações com combustíveis menos poluentes; outro estudo sobre a relação porto-cidade, como essa relação está sendo planejada em termos de resiliência climática e medidas de adaptação; e um terceiro, sobre inventário de emissões de carbono, com metas de descarbonização a serem medidas.
Experiências e perspectivas em debate.
Na mesa redonda sobre as ameaças e oportunidades da transição energética, Miguel Garín, diretor de Desenvolvimento Internacional da Fundação Valenciaport, afirmou que o mercado vai exigir cada vez mais logística menos contaminante e que o porto espanhol vem atuando nesse sentido. “No porto de Valência, nós temos um plano para que ele seja net zero em emissões em 2030. E como estamos trabalhando? Com dados. A descarbonização é um exercício matemático. Temos um grande impacto do bunker, responsável por 50% das emissões do porto. Isso já nos dá um caminho para trabalhar”, disse Garín, destacando, por exemplo, que o porto está apostando muito forte no hidrogênio verde.
Danilo Veras, head de Relações Públicas da Maersk, compartilhou que o metanol tem sido a grande aposta da empresa, que estabeleceu para si própria a meta de zerar as emissões em 2040. “Esse combustível sintético é a aposta da Maersk. Mas a gente acha que essa transição deve obedecer a premissas, como ser justa, inclusiva etc. A gente tomou a decisão não só de desenvolver a tecnologia do metanol, em especial do maquinário, mas também abrir patente. E aí veio a reboque o mercado, fazendo os seus pedidos”, disse Veras, ressaltando, porém, que a armadora acredita que há espaço para biocombustíveis e também para o GNL.
Atender às determinações internacionais, mas ter em mente a realidade brasileira. Esse foi o foco da avaliação da diretora da Antaq Flávia Takafashi. “Falando de transição energética, a gente pode ter aplicações de penalidade, embora essa não seja a realidade que o Brasil tem defendido. A ideia é celebrar um pacto para que as empresas possam dizer ‘olha, eu tenho essa meta para ser alcançada’. E, diante dessa meta, ter políticas de incentivo. Sabemos que a transição energética traz um custo muito grande”, pontuou.
Já Filipe Santana, engenheiro naval e líder de Engenharia, Meio Ambiente e Transição Energética no Oil Companies International Marine Forum (OCIMF), abordou as medidas de segurança necessárias para a adoção e manuseio de combustíveis menos poluentes tanto pelos terminais portuários como pelas empresas de navegação. Ele também chamou a atenção para as medidas de transição energética que já estão em curso. “A IMO já tem regulamentações em vigor, hoje, que para os navios cumprirem estão reduzindo a potência disponível a bordo. Isso pode afetar a manobrabilidade dos navios nos terminais”, disse Santana.
Cristiane de Marsillac, CEO da MarSalgado Brasil, moderou debate e também apresentou suas considerações sobre o cenário da transição energética no setor portuário, entre elas a de que a alternativa verde precisa ser competitiva, caso contrário o usuário não vai escolhê-la. Além disso, o país precisa se adiantar para que não venha eventualmente a ser prejudicado comercialmente por determinações de organismos internacionais, como as da IMO, que serão obrigatórias. “O Brasil tem grande produção de energia limpa, mas a gente tem que se organizar cedo, para que depois a gente não tenha que seguir padrões que fogem da nossa realidade aqui”, afirmou.
Sobre a ATP
Criada em outubro de 2013, a ATP representa os interesses e atua em defesa do segmento portuário privado e na modernização dos portos brasileiros. Atualmente, a associação reúne 35 empresas de grande porte e congrega 69 Terminais Privados do País. Juntas, as associadas movimentam 60% da carga portuária brasileira e respondem pela geração de 47 mil empregos diretos e indiretos.
Por Portal da Navegação, via Assessoria.
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