A Praticagem do Amapá continua investindo para que navios mais carregados possam atravessar a barra norte do Rio Amazonas – trecho raso e lamoso de 24 milhas náuticas que delimita o calado (parte submersa) das embarcações na Bacia Amazônica. Durante o evento Norte Export, em Belém (PA), o prático Leandro Caiaffa informou que daqui a três meses será instalada a primeira de três boias meteoceanográficas no arco lamoso. Será o pontapé para a implantação de um sistema de calado dinâmico, que indicará o quanto os navios podem transportar sem risco de tocar o fundo.
Com custo de instalação de R$ 3,6 milhões, os equipamentos vão gerar informações mais precisas para a previsão das janelas de maré, fundamentais para uma travessia segura. Caiaffa lembrou que o projeto foi iniciado com um estudo técnico em 2017 e que, na sequência, foi instalado um marégrafo no Canal Grande do Curuá, a 70 milhas da barra norte, cujos dados são compartilhados com a Marinha e a UFRJ, parceira da praticagem na análise das marés.
Soma-se a este trabalho a sondagem regular das profundidades do rio, especialmente no Curuá, já que bancos de areia se movimentam constantemente sob as águas, alterando os canais de navegação. Após o projeto da praticagem, o calado máximo autorizado aumentou de 11,50 metros para 11,90 metros (em fase de testes). Isso representa um ganho de carga de mais de US$ 1 milhão por navio. Na Amazônia, trafegam cerca de 1.300 embarcações por ano.
– A nossa intenção é ter uma previsão praticamente perfeita na barra norte – afirmou Caiaffa.
O prático Adonis dos Santos, também presente no evento, destacou que o conjunto de boias vai trazer mais previsibilidade para o carregamento das embarcações.
O comandante do 4º Distrito Naval, vice-almirante Valter Citavicius Filho, disse que a continuidade da ampliação do calado depende do prosseguimento dos estudos das marés, por meio de investimento e sinergia dos interessados, porque a Marinha carece de recursos. Ele explicou que o arco lamoso sofre grande descarga de sedimentos do Rio Amazonas, que tem uma das maiores vazões do mundo.
O diretor de Hidrografia e Navegação da Marinha, vice-almirante Edgar Luiz Siqueira Barbosa, complementou dizendo que três componentes tornam a área ainda mais complexa: a maré astronômica, gerada por forças gravitacionais no sistema Terra-Lua-Sol (essa já bem conhecida); a maré meteorológica, influenciada pelos fortes ventos; e o nível do Rio Amazonas, em função do regime de chuvas.
O presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP) e diretor da Cargill, Clythio Backx van Buggenhout, ressaltou a parceria da praticagem na otimização da logística, mas revelou que a empresa, que opera um terminal graneleiro em Santarém (PA), contratou duas consultorias para também estudar o problema.
– Redundância é sempre bem-vinda – justificou.
O presidente do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra), prático Ricardo Falcão, defendeu uma interlocução maior dos setores e a participação do agronegócio na solução dos desafios.
– Não resta dúvida da capacidade técnica da Marinha, da praticagem e de outros brasileiros. Falta todos estarem na mesma mesa, pensando em como cada um pode contribuir com o outro. Já o dono da carga precisa enxergar que os gargalos são pequenos e que investir em parceria com a Marinha trará rentabilidade para o próprio negócio – afirmou Falcão, acrescentando que é possível chegar a um ganho de calado de um metro e meio na barra norte, sem navegar em lama.
De acordo com o diretor executivo do Movimento Pró- Logística de Mato Grosso, Edeon Vaz Ferreira, os navios saem com 25% da capacidade ociosa dos portos do Arco Norte, situados acima do paralelo 16. A progressão do calado é essencial para o escoamento da crescente produção do agro. O Mato Grosso, principal produtor, responde por 72 milhões de toneladas de grãos e a estimativa é alcançar 120 milhões em 2030, sendo que dez anos depois 60 milhões serão exportados pelo Arco Norte, segundo Edeon.
Em 2020, o Arco Norte igualou a movimentação de soja e milho com o Porto de Santos, com 31,9% ou 42,3 milhões de toneladas do total embarcado no Brasil, o dobro de 2009, quando foram movimentadas 7,2 milhões de toneladas, de acordo com a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O secretário nacional de Portos e Transportes Aquaviários, Diogo Piloni, disse que a pavimentação da BR-163 até os terminais de transbordo em Miritituba (PA) reduziu em 30% os custos de frete, puxando uma redução no país de 11%. Dos terminais, a produção do agro segue em barcaças pelo Rio Tapajós, com destino a Santarém (PA), Santana (AP) ou Barcarena (PA) para exportação.
– Pela primeira vez foi mais barato exportar do Centro-Oeste para a China do que a partir do Meio-Oeste dos Estados Unidos – assinalou.
Também participaram do Norte Export, edição regional do Fórum Nacional de Logística e Infraestrutura Portuária (Brasil Export), o diretor do Conapra, prático João Bosco (ZP-19); o secretário executivo da entidade, Arionor Souza; e os práticos Luiz Omar Pinheiro (ZP‑1) e Luiz Marcelo Salgado (ZP‑3). No primeiro dia, houve uma visita técnica de ferry-boat de Belém aos terminais de Vila do Conde (PA).
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