Fábio Mello Fontes assume Presidência da Praticagem de São Paulo

Ele substitui o prático Bruno Roquete Tavares, que nos dois últimos anos fez um excelente trabalho à frente da entidade

O prático Fábio Mello Fontes acaba de assumir a presidência da Praticagem de São Paulo, função que já ocupou seis vezes nos últimos anos. Ele substitui o prático Bruno Roquete Tavares, que durante dois anos imprimiu a marca da inovação tecnológica, preparação para a chegada dos grandes navios e a implantação do programa de sustentabilidade em sua gestão, além de outros projetos.

Com 83 anos, uma incrível vitalidade, bom humor e amor pela profissão, Fontes é muito querido e conhecido no Porto de Santos. “Ser prático só me trouxe coisas boas. Eu desde menino gostava de navios e me encaixei completamente nessa profissão. Sempre quis ser da Marinha Mercante, embora meu pai insistisse na Marinha de guerra. Durante sete anos naveguei sem parar até passar no concurso para prático no Porto de Santos, em janeiro de 1969. E uma função delicada, que muito me honra”.

Há 53 anos trabalhando no complexo, o novo presidente é testemunha ocular da expansão: “Quando cheguei, o calado máximo permitido nas marés altas para entrar no porto era menos de 10 metros; hoje operamos navios gigantescos com 14m5, uma grande evolução. Venho acompanhando de perto o trabalho da Praticagem de São Paulo para atender com eficiência e dinamismo ao Porto de Santos, que vem batendo recordes seguidos na movimentação”.

Fábio Mello Fontes iniciou sua carreira na primeira turma da EMMRJ (Escola de Marinha Mercante do Rio de Janeiro) no ano de 1958, inaugurando a escola. Passou em primeiro lugar no concurso para prático de Santos, e lembra que foi recebido pelo Capitão dos Portos da época, Comandante Henrique de Mendonça Kusel.

“Quando eu cheguei, a média era navios de 120, 140 metros; os rebocadores eram antigos para as necessidades do momento, não havia defensa no cais, o prático não tinha rádio para manobrar, usava apito de juiz de futebol com código sonoro. Hoje esperamos a chegada dos navios de 366 metros, estamos falando de três vilas belmiro mais uma piscina olímpica e mais um metro”.

Fontes conta que participou e testemunhou essa evolução natural: “Nós práticos fomos acompanhando com novos equipamentos eletrônicos, montamos um Centro de Operações moderno com tecnologia de ponta e temos um sistema de coordenação do tráfego no Porto de Santos que atingiu o estado da arte, o mais dinâmico, mais preciso e evoluído, com atualização constante”.

Na memória, Fontes traz uma recordação especial de gratidão. Como oficial de convés do navio Cabo Orange, certa vez encontrou com o prático Federico Souza Bento Jr, já falecido, que depois se tornou seu amigo. Explicou que pretendia fazer o próximo concurso e deixou seu cartão de visita. Um ano depois recebeu o telegrama de Federico, para que se preparasse que o processo seletivo seria aberto em breve. “Graças a ele estou aqui”.

Para Fontes, a maior dificuldade será substituir Bruno Tavares: “Meu colega teve um desempenho tão grande e com tantos resultados excelentes, que se eu chegar perto vou me dar por muito feliz”.

Acompanhando há 53 anos toda dinâmica da evolução do Porto de Santos, sabe bem a importância do trabalho da praticagem: “Já tivemos esse ano navios de 347 metros e o crescimento se insere num momento atual de economia de escala no mundo inteiro. Santos está dentro dessa realidade”.

Em suas últimas gestões, entre outras ações importantes, Fontes e sua diretoria construíram a nova sede na Ponta da Praia. Posso dizer que nos quase 53 anos na casa, quase sempre estive ocupando cargos administrativos e participei ativamente da introdução das lanchas de fibra, da implantação do novo estaleiro de manutenção e dos primeiros passos na modernização eletrônica da empresa”, complementa.

Faz questão de ressaltar que todo o trabalho dos práticos é monitorado no Centro de Coordenação, Comunicações e Operações de Tráfego (C3OT) instalado na sede, com sistema de monitoramento de tráfego por AIS; equipamentos de sensoriamento remoto de correntes, de ventos, altura das marés, altura e período das ondas, visibilímetros, batimetria e Redraft, sistema para determinar o calado dinâmico.

“Nossos práticos foram treinados em centros de excelência nos Estados Unidos e na França. Estamos preparados para os navios 366 e continuaremos contribuindo para o desenvolvimento do nosso porto com aceleração segura do tráfego. O porto sofreu evolução, os terminais se modernizaram, mas a geografia do porto é a mesma. Isso nos obriga a um jogo de xadrez para coordenar as posições de entrada, cruzamentos e saídas para otimizar e agilizar o resultado”.

Fontes também destaca como a relação dos práticos com a Cidade foi se fortalecendo nos últimos anos. “Eu frequento vários lugares e sempre tem quem elogia o trabalho da praticagem e mostra curiosidade pelos desafios da profissão”.

Gestão de sucesso

Em seu final de gestão, Bruno Tavares participou de uma manobra pioneira, na simulação de um navio 366m de comprimento e 14,5m de calado, realizada no Tanque de Provas Numérico (TPN), da Escola Politécnica da USP, em São Paulo. O sucesso da operação abriu espaço para esses meganavios atracarem com segurança no porto.

Outros destaques desse ano foram a chegada dos grandes navios com mais de 347 metros ao complexo e a assinatura do contrato com a Agência Espacial Brasileira, visando à troca de conhecimento e ao desenvolvimento de estudos para uso da tecnologia espacial na atividade de praticagem.

Na presidência, Bruno deu um importante passo por mais sustentabilidade ambiental na Praticagem de São Paulo, com a adoção do Programa de Gestão de Emissão de Poluentes Atmosféricos (VGP) do Instituto Via Green – uma organização de pesquisa e desenvolvimento de projetos sustentáveis. Desde então, a empresa vem reduzindo os impactos ambientais negativos no setor de logística e transporte, por meio do monitoramento do consumo de água e energia, da geração de efluentes líquidos e resíduos sólidos e das emissões de poluentes atmosféricos.

Entre as boas práticas adotadas por orientação do VGP, está a substituição por modelos eletrônicos dos motores das lanchas que fazem a transferência dos práticos para os navios. O processo alcançará as 17 embarcações da frota. Outro procedimento foi o aproveitamento da água da chuva em receptores, para lavar as lanchas e outros espaços.

Eficiência energética também é meta do programa. No estaleiro de manutenção das lanchas foram instaladas 52 placas fotovoltaicas, para geração de energia solar. Já o estacionamento recebeu um ponto para carregamento de carros elétricos e híbridos, como forma de estimular o uso de transportes não poluentes.

Ainda em sua gestão, dois práticos receberam o Prêmio IMO por Bravura Excepcional no Mar, considerado o de mais alto reconhecimento mundial, concedido Pela Organização Marítima Internacional. Os práticos Marcio Santos Teixeira e Fábio Rodrigues Alves de Abreu foram premiados pela determinação, profissionalismo e expertise no manejo de navios demonstrados em uma emergência causada por condições climáticas extremas durante operação envolvendo dois navios petroleiros carregados de óleo no Terminal Almirante Barroso, no Porto de São Sebastião, em abril de 2019.

Por Portal da Navegação, via Ivani Cardoso.