É evidente que a região amazônica exerce um papel crucial para o desenvolvimento industrial do país. De acordo com dados recentes da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), o Polo Industrial de Manaus (PIM) obteve recorde de faturamento, com R$ 174,1 bilhões em 2022. Entretanto, devido à sua localização, na Região Norte do País e no meio da Floresta Amazônica, sem opões rodoviárias para escoar sua produção, a integração da Zona Franca de Manaus ao restante do Brasil tem sido um dos grandes desafios para as empresas da região, forçando as companhias a repensarem suas estratégias logísticas.
A cidade de Manaus e a Zona Franca estão localizadas próximas ao Rio Amazonas, e sem acesso terrestre a outras regiões do País, restringindo o transporte de cargas que tenham como origem ou destino o Polo Industrial a, praticamente, um único acesso através do Porto de Manaus.
Atualmente, a capital do Estado do Amazonas conta apenas uma saída por via rodoviária, que liga Manaus ao Estado de Roraima, ainda mais ao norte do país, próximo à Venezuela. Desta forma, a integração com regiões prioritárias, como Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil, só é possível através do modal marítimo ou por uma combinação rodo-fluvial, através do Rio Amazonas, trajeto este realizado por balsa, elevando substancialmente o valor do frete e os riscos à segurança da carga. Neste sentido, a Cabotagem se apresenta como uma alternativa relevante para as empresas localizadas na região, tendo em vista os benefícios oferecidos por este modal.
Em todo o Brasil, a cabotagem vem crescendo de maneira expressiva, em uma média anual de 8% na última década, segundo dados da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac). O modal, que surgiu no final dos anos 90, tinha como objetivo criar uma alternativa ao transporte rodoviário, trazendo soluções logísticas aderentes ao mercado, aproveitando a extensa costa navegável do Brasil, que conta com mais de 8,5 mil quilômetros e liga o país de norte a sul. Isto somado ao fato de que 80% do mercado consumidor brasileiro está localizado a até 200 km da Costa, faz da Cabotagem uma excelente e competitiva opção para o escoamento da carga que vem de Manaus.
Atualmente, as operações vão muito além do transporte marítimo puro. A cabotagem no Brasil é oferecida como parte de um transporte multimodal de cargas, que oferece serviços complementares, como armazenagem, transporte terrestre e gestão logística porta a porta.
Além disso, o crescimento deste modal está diretamente ligado às vantagens oferecidas frente a outros modelos de transporte, benefícios esses que se intensificam quando inseridos no contexto da região norte do Brasil, sobretudo no Polo Industrial de Manaus.
Tendo em vista o perfil de alto valor agregado das cargas que saem da região, compostas especialmente por eletroeletrônicos, linha branca e duas rodas, o alto nível de segurança, quando considerados os riscos de roubos, desvios, acidentes e avarias, é um dos principais diferenciais da cabotagem em comparação a outros modais, especialmente em rotas longas, como por exemplo, de Manaus à região Sudeste do Brasil, que chega a quase 4 mil quilômetros em estradas, aumentando em muito o risco de sinistros.
Neste sentido, a cobertura de trajetos distantes com maior volume de carga torna-se um dos principais ganhos da cabotagem em relação ao transporte rodoviário, uma vez que o navio conta com uma capacidade muito superior (de 1.000 a 1.500 vezes) a dos caminhões, minimizando ainda, a utilização de estradas muitas vezes sinuosas e irregulares, que ampliam os riscos de acidentes.
O meio ambiente também é um dos grandes beneficiados pela adoção do modelo marítimo. De um modo geral, a emissão de CO² no transporte multimodal com uso da Cabotagem é muito menor do que a emissão decorrente do transporte rodoviário puro, no mesmo trajeto. Em determinados trechos, o volume de gases poluentes emitidos pelo modal marítimo é aproximadamente 80% menor, se comparado com a mesma carga transportada por meio de caminhões.
Os desafios para a cabotagem em Manaus
Mesmo com todos os benefícios, a cabotagem ainda enfrenta desafios para continuar crescendo e se manter como principal meio de transporte de cargas para o Polo Industrial de Manaus.
Um dos principais fatores de gargalo para este crescimento é a diferença de “Transit Time” entre os modais, ou seja, o tempo levado para o transporte da carga do ponto de origem ao destino. Atualmente, o transporte por caminhões é, em média, dois dias mais rápido do que o marítimo, o que impacta diretamente as empresas que demandam o serviço, especialmente em determinado período do mês, frente às suas necessidades comerciais.
Outro obstáculo com relação à logística em Manaus são os períodos de seca do Rio Amazonas e seus afluentes, um fator climático anual que impacta diretamente o transporte de cargas, sobretudo com relação a embarcações de grande porte. Para se ter uma ideia, no início de outubro de 2022, o Rio Negro anotou seu pior índice em 100 anos, ao registrar um nível de 13,56 metros. Neste sentido, ao ampliar a oferta de escalas no Porto de Manaus é possível fragmentar este transporte, reduzindo o risco de restrições de capacidade das embarcações.
Desta forma, para que a cabotagem se consolide na região e corrobore para solucionar os desafios logísticos existentes em Manaus, é imprescindível que os armadores entendam as principais demandas e dificuldades deste mercado e busquem soluções logísticas que minimizem seus efeitos, trazendo os benefícios amplamente conhecidos do modal marítimo no atendimento às demandas específicas daquela Região.
Felipe Gurgel é diretor Comercial da Log-In Logística Intermodal.
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