Ganância do dono do barco, desconforto do consumidor

No festival de Parintins, entra ano, sai ano, nada melhora para passageiro de barco

Nos últimos 30 anos da vida de quem viaja de barco para o festival de Parintins, pouca coisa mudou para melhor.
De outro lado, muitos procedimentos continuam ruim esse tempo todo. É um festival de desrespeito que passa longe das ações de fiscalização dos chamados órgãos de defesa do consumidor.
A hora de embarcar, por exemplo primeiro, é do mesmo modo que há três décadas, no mínimo. É uma briga de foice conseguir um ferro para atar a rede. É a providência primeira de quem vai enfrentar uma viagem longa, sem distração alguma oferecida pelo barco.
Sem falar nos 20 reais por uma marmita de comida sem qualidade, sem uma folha sequer de salada. E sem um tamborete para se comer com calma. O jeito é fazer a refeição na própria rede.
O advento de modernidade trazido pelas pulseiras para substituir o bilhete de passagem, em que pese o passageiro-consumidor ainda tenha que enfrentar fila para isso, acaba não servindo para nada.
Começa que essa troca não gera uma lista de passageiros confiável. E olha que houve fila para apresentar o bilhete, trocar pela pulseira e apresentar seu documento de identificação.
Toda essa burocracia não garante ao turista ou visitante da festa dos bois um lugar para esticar a rede e o corpo.
Diante disso, ele se taca para o porto às 23h. O barco sai 6h. Porém, para ele, é melhor passar uma noite de calor, mas armar a rede.
No porto, o vigia (esperava uma recepcionista de fala agradável?) avisa que o “Parintins”, o barco, já atracou.
Contudo, eis que surge o “Parintins”. Quase totalmente lotado. Quer dizer, embarcou quase toda a lotação do barco fora do porto. “Boiou” aquele que madrugou no cais.
Pois bem, vai então o passageiro com o que dá, com o que o dono do barco lhe restou. E isso são poucas e imprensadas vagas de cabides, a maioria perto da sala de máquinas. Em outras palavras, com o barulho ensurdecedor dos motores.
Já que chegou até aqui, vai dar muito aborrecimento recuar e buscar outro barco. É conseguir um lugar, atar a rede e tentar salvar o sono do resto da noite.
Apesar do calor que faz na beira do rio, o que há a fazer é deitar e esperar a hora da partida.
Mas, peraí. Ainda falta a humilhação final, protagonizada pela Marinha. Consiste em tratar todos os passageiros como gado. Pelo alto-falante vem a ordem para deixar a rede e entrar no curral montado no cais.
É só agora que os militares vão conferir se o dono do barco diz a verdade na lista de passageiros.
Mas, na responsabilidade que cabe a eles, quem sofre o ônus é o consumidor. Como sempre, há muitos festivais.
Ressalve-se que não é exclusividade do “Parintins” tal desrespeito, que rende aos bolsos do dono do barco mais de R$ 100 mil por viagem.

Por Portal da Navegação, via BNC Amazonas