Instituto Praticagem do Brasil recebe turma do ATPR

Pela primeira vez, a parte presencial do Curso de Atualização para Práticos, o ATPR, ocorreu em Brasília, de 23 a 27 de outubro. As aulas teóricas e os exercícios em simuladores de manobras aconteceram no Instituto Praticagem do Brasil, em credenciamento pela Autoridade Marítima para ser mais uma opção à parte presencial do ATPR, até então realizada em unidades da Marinha no Rio de Janeiro (Ciaga) e Belém (Ciaba). O programa brasileiro, obrigatório a cada cinco anos, foi pioneiro no mundo e é referência internacional. A coordenação cabe ao Conselho Nacional de Praticagem, por delegação da Autoridade Marítima.

O presidente da Praticagem do Brasil, prático Ricardo Falcão (ZP-01/Bacia Amazônica Oriental), proferiu as palavras iniciais aos práticos da turma: André Schumann (ZP-12/Bahia), César Molina (ZP-16/SP), Gardel Rodrigues (ZP-16/SP), Marcello Câmara (ZP-15/RJ), Roberto Toste (ZP-15/RJ), Rosette Fonseca (ZP-16/SP) e Sergio Velloso (ZP-18/São Francisco).

Falcão traçou um histórico do ATPR e lembrou que, em dezembro, a Resolução A.960 da Organização Marítima Internacional (IMO) completa 20 anos. O curso brasileiro atende às recomendações de treinamento da resolução desde o seu início:

– Quando saiu a Resolução A.960, em dezembro de 2003, meses depois já tínhamos a primeira turma de atualização para práticos do mundo. O que veremos ao longo desta semana é uma evolução disso. Tornamos a praticagem conhecida pela sua qualidade, pelo respeito à regulação realizada pela Marinha e por tudo que desenvolvemos nesses anos. Somos referência mundial em treinamento. Várias praticagens espelham o que teremos aqui. Não copiamos modelos da Europa ou dos Estados Unidos. É o contrário. Eles querem chegar ao nosso padrão. E isso se fez com muito sacrifício. A cada cinco anos, temos um ATPR diferente, atualizado. Este ciclo acaba em 2026, mas já estamos iniciando a discussão sobre o ciclo seguinte, a partir de 2027.

O prático Marcelo Cajaty (ZP-19/Rio Grande) fez a apresentação inicial. Durante a semana, os práticos receberam instruções sobre temas como PPU (portable pilot unit), ECDIS (carta eletrônica), Posicionamento Dinâmico (DP), Propulsão Azimutal (Azipod), Efeitos Hidrodinâmicos, MPX (Master Pilot Exchange), Atitudes Pós-Acidentes e Responsabilidade Civil. Além disso, conheceram e discutiram estudos de casos e realizaram exercícios de situações de emergência no novo simulador full mission do Instituto.

O instrutor Bruno Tavares (ZP-16/SP) apresentou o encalhe do porta-contêineres Leda Maersk no acesso ao Porto de Otago, na Nova Zelândia, em 2018. Neste caso, o prático percebeu um erro do PPU e deixou de usá-lo, sem comunicar à equipe do passadiço. Ao mesmo tempo, o oficial do navio detectou no ECDIS que a embarcação estava fora da rota e não avisou a ninguém. 

– É uma preocupação nossa trazer esses casos, porque na grande maioria dos relatórios de investigação de acidentes é sempre mencionada a pouca troca de informações entre prático e comandante (MPX). Não que ela não seja feita no início da manobra, mas é bom sempre mantê-la durante a navegação – ressaltou Bruno, que viu com bons olhos a realização do ATPR em Brasília. – O Instituto nos fornece infraestrutura no estado da arte para ensino, tanto em simuladores quanto em salas de aula, equipamentos e materiais de apoio.

Nos simuladores, os práticos fizeram exercícios em que todos são forçados a errar para gerar debates sobre como proceder naquelas situações de emergência.

– A discussão no debriefing é realmente o nosso objetivo. Vamos ao simulador para criar uma dinâmica e depois retornamos para os debates, o mais importante – explicou o instrutor Marcelo Cajaty.

Os práticos também receberam orientações de salvamento e resgate e sobre a importância do condicionamento físico na operação de transferência da lancha para o navio, momento em que o profissional pode cair na água. Segundo o consultor Roberto Costa, somente neste ano cinco práticos morreram após a queda.

Ele trouxe depoimentos em áudio e os aprendizados de três colegas brasileiros que caíram na operação, entre eles o do prático Marcello Camarinha (ZP-15/RJ), diretor administrativo da Praticagem do Brasil, que apontou diversos pontos importantes, como o uso do EPI (equipamento de proteção individual) completo: 

– Muito embora o capacete não seja obrigatório, sua utilização deve ser incentivada. Naquela ocasião, eu não usava capacete e, por muito pouco, não bati a cabeça. Se isso acontecesse, talvez o acidente tivesse sido fatal.

Foi enfatizada ainda a necessidade de manutenção do colete salva-vidas e de dotar as lanchas dos equipamentos adequados de salvatagem e primeiros socorros, além da qualificação de suas tripulações, tanto para o resgate quanto para o primeiro atendimento da vítima.

– Em 5% dos casos a pessoa está desacordada ou ferida gravemente. E temos praticagens de navegação mais longa, em que se leva muito tempo do local da queda até o suporte médico em terra. Por isso, os marinheiros precisam ter noções de primeiros socorros e familiaridade com os equipamentos de retirada da vítima da água – destacou o consultor Roberto Costa.

Em sua apresentação, o capitão-tenente André Luiz, da Comissão de Desportos da Marinha, tentou conscientizar os práticos sobre a importância de manter o condicionamento físico, não apenas para subir e descer a escada de quebra-peito (de acesso ao navio), mas também para envelhecer de forma saudável. Ele disse é fundamental mudar o ambiente à sua volta para engrenar em uma rotina de exercícios:

– Se o ambiente não for alterado, fazendo as mesmas coisas que me estimulam e à minha família a manter hábitos antigos, não vou conseguir mudar. Portanto, primeiro mudo o ambiente e o foco, para depois me transformar com eles. Envolvam suas famílias nesse processo. O resultado virá muito mais rápido. A atividade de vocês é extremamente perigosa. Em um instante, pode-se passar de vivo a morto. Então, pensem que há alguém esperando em casa pelos senhores.

Na academia do Complexo Aquático Cláudio Coutinho, o capitão-tenente e o capitão de fragata Zarath ensinaram exercícios que podem ser feitos para fortalecimento de antebraços e pernas, exigidos na subida da escada.

Já na piscina, os práticos foram orientados sobre como cair de certa altura na água e a técnica de nadar com o colete salva-vidas, a fim de se afastar do costado do navio. Eles tiveram a oportunidade de pular de uma plataforma de cinco metros, com coletes rígido e autoinflável. O vice-presidente da Praticagem do Brasil, prático Bruno Fonseca (ZP-05/Ceará), e o diretor técnico, prático Marcio Fausto (ZP-18/São Francisco), participaram da atividade com a turma. 

– Deu para sentir confiança no colete. Eu sempre ficava receoso de aquele strap (tirante passado entre as pernas para o colete não subir) impactar o corpo na queda e dificultar o nado. Foi um mito que caiu por terra. Gostei muito do treinamento – comentou o prático Gardel Rodrigues, que preferiu o colete rígido, com o qual costuma embarcar, ao autoinflável.

O prático Sergio Velloso participou do seu primeiro ATPR e elogiou o programa:

– Fiquei super surpreso com a estrutura das instalações do Instituto e dos simuladores, assim como a qualidade dos instrutores, sabendo envolver a turma, promovendo debates e trocas de experiências.

O prático João Bosco (ZP-19/Rio Grande) – outro instrutor voluntário como o prático Alexandre da Rocha (ZP-21/Itajaí) – contou que o ATPR continua despertando o interesse de práticos de outros países, que já vieram ao Brasil compartilhar dos conteúdos do programa.

– Eu estava no Fórum Latino-americano de Práticos, no Panamá, e um representante do México me abordou querendo enviar práticos para cursar o ATPR conosco. Assim como o nosso curso é bom, o sistema de praticagem brasileiro é o mesmo de outros países que têm cultura marítima, e funciona. 

O Conselho Nacional de Praticagem agradece ao gerente técnico, Raimundo Nascimento, pelo empenho na organização do ATPR ao longo desses anos. 

Acesse o álbum completo: https://flic.kr/s/aHBqjB1iet

Por Portal da Navegação, via Praticagem do Brasil.