Mesmo após registrar faturamento recorde de R$ 204,39 bilhões em 2024, a Zona Franca de Manaus enfrenta gargalos logísticos que ameaçam sua sustentabilidade.
A ausência de infraestrutura viária e fluvial e a indefinição sobre a BR-319 impõem restrições ao transporte, elevam os custos industriais e comprometem o futuro do modelo.
Mesmo com mais de 530 fábricas em operação e um faturamento de R$ 204,39 bilhões em 2024, o modelo enfrenta desafios antigos agravados pelas estiagens severas e pela paralisação de obras estratégicas.
O principal problema, segundo empresários e especialistas, é a falta de infraestrutura, especialmente a indefinição sobre a BR-319.
Matéria publicada pelo Correio Braziliense expõe os entraves estruturais que limitam o funcionamento do Polo Industrial de Manaus (PIM)
A estrada federal que deveria conectar Manaus a Porto Velho segue com 400 km sem pavimentação. A conclusão da rodovia permitiria o transporte direto por via terrestre, diminuindo o tempo médio de escoamento da produção de até 28 dias para menos de uma semana.
“O que falta agora é pavimentar com responsabilidade, respeitando os condicionantes ambientais”, afirmou Antônio Silva, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam).
Para ele, é urgente consolidar um tripé logístico: pavimentação da BR-319, dragagem contínua dos rios e estrutura ferroviária interligada.
“A ausência de qualquer um desses elementos impacta os custos de produção e o abastecimento das fábricas”, alertou Silva.
Durante as secas severas de 2023 e 2024, o transporte fluvial foi interrompido em diversos trechos, obrigando empresas a usar o porto de Itacoatiara, a 280 quilômetros de Manaus, para realizar o transbordo da carga em balsas menores.
A medida improvisada representa risco e custo adicional. “É uma solução cara e arriscada”, apontou Silva.
Augusto Rocha, coordenador de logística do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), critica o que chama de “tecnocracia da desigualdade”.
Segundo ele, decisões centralizadas em Brasília desconsideram a realidade amazônica e mascaram omissões orçamentárias com discursos ambientais.
“O greenwashing orçamentário serve para justificar a ausência de investimentos. Recebemos menos de 0,2% do PIB, quando precisaríamos de 2,5%”, argumentou.
A crítica é endossada por empresas instaladas na Zona Franca, como a BIC e o Grupo NC. A unidade da BIC em Manaus utiliza a cabotagem como principal modal, mas precisa manter estoques reguladores de até 40 dias para lidar com as incertezas da navegação.
“Se a BR-319 estivesse asfaltada, 80% seguiria por cabotagem e 20% por rodovia, com muito mais flexibilidade”, declarou Jean Marc Hamon, diretor da unidade.
A empresa envia carretas de Manaus por balsas até Belém e, de lá, por rodovia até centros de distribuição no Sudeste. O trajeto de mais de 2.700 km compromete prazos e exige capital imobilizado com armazenagem.
“Cada dia de mercadoria parada representa custo direto. A estrada reduziria o prazo em até 15 dias”, reforçou Hamon.
Já o Grupo NC, dono da única fábrica farmacêutica do polo, também sofre os impactos logísticos. Embora 80% das matérias-primas venham por via aérea, os insumos nacionais enfrentam os mesmos problemas da indústria tradicional.
“A imprevisibilidade das rotas fluviais afeta a entrada de insumos e a saída dos produtos. Precisamos de soluções estruturais para atrair mais investimentos e consolidar o polo farmacêutico”, disse o CFO Gustavo Bizinelli.
Em nota, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou que retomará a dragagem dos rios Amazonas e Solimões em setembro, dentro do Plano Anual de Dragagem (Padma), com vigência de cinco anos.
O objetivo é garantir a navegabilidade no período de estiagem, mas a medida é considerada paliativa por especialistas.
“Dragar por dragar, sem planejamento, é jogar dinheiro no fundo do rio. Precisamos usar a própria força do rio para escavar e manter o canal. Isso exige obras estruturantes e vontade política”, concluiu Rocha.
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