Segundo o Ministério da Agricultura, o Brasil exportou 68,8 toneladas de açaí em 2023, sendo 92% desse total enviado aos EUA — Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

Extrativistas fecham contrato para exportação de açaí em pó.

Venda para os EUA garantirá retorno de até R$ 2,4 milhões por mês a ribeirinhos de Bailique, no Amapá.

Os extrativistas do arquipélago de Bailique, no Amapá, realizarão este ano sua primeira exportação direta de açaí para os Estados Unidos com a contratação inicial de dez toneladas do produto liofilizado, processo de beneficiamento que permite comercializar a polpa em pó. O volume supera o total exportado pelo Estado em 2023, quando foram embarcadas 3,9 toneladas do produto, segundo dados do Ministério da Agricultura.

Ao todo, o Brasil exportou 68,8 toneladas de açaí no ano passado, sendo 71% desse total oriundo do Pará. Os EUA são o principal mercado, destino de mais de 90% das exportações, hoje realizadas em sua maioria por grandes empresas que adquirem a produção de comunidades extrativistas ou de grandes produtores que cultivam o açaí plantado.

No caso de Bailique, o contrato de exportação foi realizado diretamente pelos produtores por meio de cooperativa fundada em 2017, a AmazonBai, hoje com 144 cooperados. O negócio, segundo o presidente da cooperativa, Amiraldo Picanço, deve garantir um retorno de R$ 2,4 milhões à comunidade e elevar a produção local de 75 toneladas anuais para 350 toneladas este ano.

“Diferente de uma empresa, em que o lucro é dividido entre os donos, no nosso caso o resultado será repartido de forma justa e equitativa entre todos”, observa Amiraldo. Ele calcula que para cada tonelada de açaí em pó, a cooperativa precisará beneficiar nove toneladas do fruto in natura, permitindo aumentar o volume adquirido dos associados.

AmazonBai reúne 144 cooperados na região do Bailique — Foto: Divulgação/AmazonBai
AmazonBai reúne 144 cooperados na região do Bailique — Foto: Divulgação/AmazonBai

Atualmente, cerca de 20% do açaí produzido pelos cooperados é absorvido pela AmazonBai e a perspectiva é de que esse percentual salte para até 50% com o início das exportações. A meta, conta Amiraldo, é alcançar 65% da produção dos cooperados a partir da terceirização do beneficiamento e destinando entre 15% e 25% do restante para o consumo local.

Em média, a cooperativa tem conseguido pagar até 30% a mais pelo açaí produzido por seus cooperados graças a uma política de preço fixo ao longo de toda a temporada, evitando as oscilações de mercado que podem ir de R$ 25 a R$ 300 a lata. Já com o produto desidratado, a previsão é de que os produtores obtenham um valor até 400% superior ao pago pela polpa in natural.

De acordo com Andrea Azevedo, diretora executiva do Fundo JBS Amazônia, que tem apoiado a cooperativa na profissionalização da sua gestão, a liofilização do açaí foi um passo estratégico para os extrativistas alcançarem o mercado internacional.

“O açaí liofilizado dispensa a logística fria, aumenta a durabilidade e isso já faz com que eles consigam exportar”, explica Andrea. Além dos EUA, a AmazonBai também negocia o envio do açaí em pó para outros quatro países. A perspectiva, conta, é que a cooperativa ganhe escala e torne-se um polo de beneficiamento e exportação do fruto na Amazônia.

“Já tem outras cinco cooperativas interessadas em vender para eles caso tenham sucesso nesse canal de comercialização. Então acho que esse é um modelo que poderia ser expandido para outras comunidades próximas como uma cooperativa de segundo grau, que consegue trabalhar a comercialização e a industrialização local”, completa Andrea.

Por Portal da Navegação, via Globo Rural.