Lanchas blindadas são usadas na fiscalização dos rios - Carlos Soares/SSP-AM

Piratas deram prejuízo de R$ 35 milhões com roubos de cargas de embarcações no AM

Anualmente a prática gera prejuízos milionários a empresas de transportes de cargas e sindicatos cobram ações eficazes para combater o crime.

MARA MAGALHÃES – PORTAL AM1

Manaus (AM) – Ações de piratas nos rios do Amazonas representam uma ameaça crescente, resultando em prejuízos milionários anualmente devido ao roubo de cargas. Essa prática não apenas impacta negativamente a economia local, mas também compromete a segurança das vias fluviais. Diariamente, balsas transportadoras enfrentam ataques desses criminosos, aumentando a tensão e a incerteza ao longo dos trajetos.

O prejuízo causado em 2023 ainda não foi contabilizado, mas somente no primeiro semestre foram de R$ 7 milhões em roubos de combustíveis e derivados de petróleo, carga preferida dos piratas, conforme dados do Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas (Sindarma). Já em 2022, os prejuízos com as ações dos piratas atingiram a marca de R$ 35 milhões.

Em toda a Região Norte, de acordo com dados do Instituto Combustível Legal (ICL), os prejuízos causados pelo roubo de cargas ultrapassam R$ 100 milhões por ano.

Esses grupos criminosos operam em áreas remotas e, muitas vezes, desprotegidas ao longo dos extensos rios, onde as autoridades têm dificuldades para patrulhar e combater suas atividades ilícitas.

O roubo de cargas por piratas dos rios é uma prática antiga na região, mas nos últimos anos tem se intensificado, causando prejuízos significativos para as empresas de transporte fluvial que operam na Amazônia. Essas empresas enfrentam não apenas a perda de mercadorias valiosas, mas também danos materiais às embarcações e, mais importante ainda, o risco à vida dos tripulantes e passageiros.

SSP-AM afirma que ações são realizadas constantemente nos rios – (Foto: Carlos Soares/SSP-AM)

De acordo com o presidente do Sindarma, Galdino Alencar, diariamente os comboios são atacados em diferentes regiões do Estado, o que levou as transportadoras a contratarem com recursos próprios escoltas de segurança armadas. Os trechos mais perigosos, segundo Galdino, são o Rio Madeira e o Baixo Amazonas, principalmente entre Itacoatiara e Parintins.

“Além das escoltas de segurança contratadas pelas transportadoras, tem uma série de equipamentos e dispositivos que vão desde o treinamento das tripulações, a rastreamento e monitoramento via satélite, botão do pânico e também reforço na segurança privada nos portos, entre outras ações realizadas pelas empresas”, acrescenta Galdino sobre as medidas preventivas que as empresas de navegação têm adotado para proteger suas cargas.

Para Galdino Alencar, além dos prejuízos materiais e financeiros para as empresas de navegação e para o abastecimento dos municípios, especialmente no interior do Amazonas, os roubos representam uma ameaça grave à vida e integridade de milhares de trabalhadores do setor. Essa prática ilícita também acarreta sérios riscos ambientais, especialmente quando se trata do transporte de combustíveis em embarcações precárias que não seguem as normas de fiscalização.

“Os tiros disparados contra as balsas podem desencadear explosões e vazamentos de combustível, intensificando ainda mais os danos ao ecossistema”, pontua.

As forças de segurança contam com bases em alguns pontos estratégicos – (Foto: Carlos Soares/SSP-AM)

Experiência própria

Gelson Barros, 45 anos, acumula mais de sete anos de experiência nas águas do Amazonas, navegando em uma embarcação que transporta cargas de Manaus para Belém, no Pará, e Porto Velho, em Rondônia. Durante esses anos, ele se tornou testemunha de inúmeros ataques dos piratas dos rios, uma realidade que se tornou parte de sua jornada.

“Já perdi a conta dos ataques que presenciei dos piratas ao longo desses anos. A angústia de ser alvo deles é algo que nunca passa, a sensação de vulnerabilidade que nos acompanha em cada viagem é algo que não temos como fugir. Viajamos sempre tensos e em alerta”, relata.

Gelson descreve a rápida mudança de cenário durante um ataque. “Tudo acontece tão rápido. O silêncio das águas tranquilas é rapidamente rompido pelos estrondos dos tiros. Eles não hesitam em usar a violência extrema; atiram para matar. Cada viagem se transforma em uma batalha pela sobrevivência, onde proteger não apenas a carga, mas também nossas próprias vidas”, afirma.

Em julho de 2023, o policial militar Wando Luiz Oliveira da Silva foi baleado dentro de uma balsa, que transportava combustíveis, na comunidade da Ilha do Baixiu, próximo ao município de Iranduba, no interior do Amazonas.

O PM sobreviveu e relatou, na época, que suspeitos armados se aproximaram em outras embarcações com o intuito de roubar a carga. Um intenso tiroteio se formou no local e o policial acabou sendo atingido na região da barriga.

Embarcação atacada por piratas – (Foto: Divulgação/ICL)

Debates com os órgãos de segurança

O presidente do Sindarma informou que o sindicato já participou de diversas reuniões e encontros com as forças de segurança pública para debater ações e projetos, além da troca constante de informações. O sindicato já chegou a defender a criação da Polícia Hidroviária Federal, como medida emergencial.

No dia 26 de janeiro deste ano, o Sindarma se reuniu com os representantes dos sindicatos dos Fluviais da Seção de Convés (Sindflu) e dos Trabalhadores Aquaviários (Sintraqua) justamente para debater medidas contra as ações dos piratas.

Entre as propostas apresentadas no encontro, por sugestão do Sindarma, foi acordada a elaboração de um documento único aprovado pelas três entidades, a ser entregue aos órgãos públicos, no qual apontam as áreas de maior risco e medidas emergenciais para coibir os ataques e ameaças. Os representantes dos sindicatos também pretendem promover reuniões com o Poder Público para acompanhar o avanço das atividades.

Reunião entre representantes dos sindicatos em busca de soluções – (Foto: Divulgação/Sindarma)

Além de reforçar a presença policial nos rios, o grupo pede ações nas áreas dos terminais portuários do Amazonas para evitar que se repita no estado o que aconteceu em um terminal de Porto Velho, quando o tripulante de uma transportadora de Manaus foi assassinado por piratas enquanto a balsa em que trabalhava estava atracada no terminal da cidade.

Em Manaus, conforme dados apresentados na reunião, apenas na região do Ceasa, na zona Sul, cinco embarcações e seus tripulantes foram assaltados nos últimos seis meses.

Manual com orientações 

Devido aos constantes ataques, o Instituto Combustível Legal elaborou um manual para esclarecer dúvidas e orientar as empresas transportadoras que optem pela contratação de escolta armada. O manual aborda diversos temas, desde o transporte propriamente dito, passando pelas atribuições de cada ente envolvido (transportador, forças de segurança pública, autoridade marítima local, comandante da embarcação…), até legislação pertinente à escolta armada, entre outros temas de interesse.

“A pirataria na Região Norte do país é um problema grave, que provoca prejuízos milionários às empresas. Além disso, os criminosos estão cada vez mais violentos, colocando em risco a tripulação das embarcações. São necessárias ações urgentes e o ICL segue à disposição para apoiar as autoridades no combate às irregularidades, contribuindo para tornar o abastecimento de combustíveis mais seguro não apenas no Norte, mas em todo o Brasil”, ressaltou Carlo Faccio, diretor do ICL.

A maioria das empresas agora contam com segurança armada – (Foto: Divulgação/ICL)

O que diz a SSP-AM?

Questionada sobre quais medidas estão sendo tomadas para inibir as ações de piratas nos rios do Amazonas, a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) informou ao Portal AM1 que tem realizado constantemente reuniões com os representantes do setor para buscar fortalecer as ações das Forças de Segurança no combate a esse tipo de crime.

A SSP-AM informa, ainda, que tem aumentado o patrulhamento nos rios com apoio de lanchas blindadas e armamentos de grosso calibre, além de fiscalizações permanentes a partir das Bases Fluviais Arpão 1 e 2, Tiradentes e a Governador Paulo Pinto Nery, essa última unidade apreendeu A unidade apreendeu, desde que entrou em operação, no último dia 15 de janeiro, mais de 300 litros de combustível sem procedência comprovada.

“Nós estamos ampliando o nosso raio de ação das nossas bases flutuantes. Temos uma tropa integrada com a Polícia Civil e com a Polícia Militar, trazendo mais segurança para as calhas dos rios e se fazer presente, onde o crime está”, afirmou o secretário executivo adjunto de Operações (Seaop), Algenor Teixeira.

Além da SSP-AM, as Bases Fluviais contam com o efetivo da Polícia Militar do Amazonas (PMAM), Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), Corpo de Bombeiros do Amazonas (CBMAM), Departamento de Polícia Técnico-Científica (DPTC), Força Nacional de Segurança Pública e Marinha do Brasil.

Por Portal da Navegação, via PORTAL AM1.