Paulo Silveira
Os ataques de piratas às embarcações que fazem o transporte de combustível pelos rios do Norte do País tornaram-se um problema de alta gravidade. Os fatos, cada vez mais corriqueiros, colocam vidas em risco e podem provocar o desabastecimento de postos de combustíveis e de termoelétricas movidas a diesel localizados na região, principalmente no Estado do Amazonas.
Mais de 1,5 milhão de litros de combustível roubados por piratas
Nos quatro primeiros meses deste ano, os piratas do rio já realizaram quatro abordagens e assaltos a embarcações que transportam cargas e combustíveis nos rios do Amazonas, totalizando, apenas em gasolina e óleo diesel, mais de 1,5 milhão de litros levados pelas quadrilhas organizadas.
Os números fazem parte do levantamento realizado pelo Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas (Sindarma) e indicam a alarmante situação em que se encontra a segurança no transporte de combustível – ou a falta dela – para os municípios do interior do Estado.
Madison Nóbrega, vice-presidente do Sindarma, explica que a situação começou a se agravar em 2021, quando o Estado do Pará inaugurou uma base flutuante, investindo no combate à pirataria na região.
“Como o Estado do Amazonas não teve ainda consciência da gravidade que é a pirataria, os criminosos que atuavam no Pará começaram a migrar para outros rios, como Madeira, Solimões e outros”, explica “As empresas de navegação contrataram empresas privadas de segurança, e como não há uma solução a curto prazo, alguns tripulantes não querem mais trabalhar em balsas para transporte de combustíveis devido à incidência de assaltos”, afirma Nóbrega.
Quando os piratas abordam as balsas, agem com violência. “Já tivemos casos de vítimas que perderam a orelha, que levaram tiro. Como não estamos conseguindo tripulantes, está chegando o momento em que vamos ter que parar as embarcações e deixar de atender às distribuidoras”, alertou o representante das transportadoras.
Piratas dos rios têm histórico de violência
No maior roubo registrado este ano, um grupo de 28 assaltantes invadiu uma embarcação no município de Manicoré (AM), no dia 28 de janeiro, e transferiu para suas embarcações ilegais um milhão de litros de óleo diesel, além de manter a tripulação refém por dois dias, sob ameaças e agressões físicas.
Coincidência ou não, na mesma data outra embarcação, que transportava 91 mil litros de gasolina e óleo diesel< também foi abordada e assaltada no Paraná do Espírito Santo, no município de Parintins (AM).
Além de levar o combustível, os cinco criminosos armados agrediram a tripulação com coronhadas e depois mantiveram a equipe trancada por 12 horas em um único camarote.
Em outro assalto, ainda nos primeiros dias de 2022, na região de Itacoatiara (AM), além de levar quase 500 mil litros de combustível, os criminosos navegaram com a tripulação presa na cozinha da embarcação até as proximidades do município de Borba (AM), onde as vítimas conseguiram registrar o Boletim de Ocorrência.
E no mais recente caso, em frente à orla da capital do Amazonas, dois tripulantes de um bote de apoio de um empurrador foram obrigados a sair da pequena embarcação e deixados na Ilha do Marapatá, até serem resgatados enquanto os ladrões fugiram levando o barco.
Escolta armada de custo elevado não impede ação dos piratas no roubo de combustível
De acordo com o Sindarma, as empresas de navegação têm investido grande montante de recursos próprios para manter a regularidade no abastecimento de combustível aos municípios do interior do Amazonas.
Entre as principais ações realizadas, estão a contratação de escoltas de segurança para acompanhar os comboios e o monitoramento, via satélite, das embarcações 24 horas por dia. Porém, as iniciativas ainda não são suficientes, uma vez que os piratas seguem agindo livremente em todo o Estado.
Segundo Nóbrega, o custo da guarda armada não está computado no preço do transporte, por isso, o sindicato pede o apoio das autoridades e das distribuidoras, uma vez que o produto pertence a essas empresas.
“Mais uma vez, estamos pedindo socorro. A Marinha se prontificou a ajudar – eles autorizaram a navegação com escolta armada. Foi isso que nos salvou, senão, era suicídio” afirma Nóbrega. “O governo do Estado já assinou algumas propostas, que ainda não saíram do papel. A situação é gravíssima e precisamos realmente de ajuda”, apela.
Programa Armazenamento, Transporte & Abastecimento de Combustíveis (ATAC)
A pirataria na região Norte foi pauta de debate junto às autoridades locais, no Programa Armazenamento, Transporte & Abastecimento de Combustíveis (ATAC) Manaus, realizado em março pelo Instituto Combustível Legal (ICL). Para Carlo Faccio, diretor do ICL, se a fragilidade da segurança no sistema rodoviário já é preocupante, no aquaviário é pior ainda.
“As balsas têm capacidade de transportar milhões de litros de combustível, chamando atenção dos chamados piratas dos rios – eles abordam as balsas e fazem a drenagem dos tanques, levando o produto para as cidades ribeirinhas”, relata Faccio.
“Os criminosos usam o combustível roubado para promover o abastecimento de veículos usados em ações ilegais, incluindo aviões para transporte aéreo de drogas que vêm da Colômbia, da Venezuela”, alerta. “O transporte aquaviário não conta ainda com uma polícia dedicada à fiscalização, falta monitoramento das embarcações, até para dar mais garantia de previsibilidade ao abastecimento”, afirma o diretor do ICL.
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